domingo, janeiro 20, 2008

Não precisa explicar, eu só queria entender
Três casos retratam com precisão a cara do Brasil

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP e consultor político

O Estado de S. Paulo

Três casos retratam com precisão a cara do Brasil. A lei proíbe que os mesmos controladores possuam mais de uma operadora de telefonia, mas a Oi vai comprar a Brasil Telecom porque o presidente da República dará "um jeitinho" e transformará o que é ilegal em legal. Em 2003, o País ocupava a 58ª posição no ranking das economias livres e, agora, cai para o 101º lugar, derrubado por expressivos índices de corrupção. Como isso é possível, se nos últimos anos extirpou tumores, escancarou tramóias, prendeu senhores de colarinho-branco e estourou fronteiras de corrupção com as megaoperações da Polícia Federal? O Palácio do Planalto vai gastar, este ano, R$ 154 milhões para vender "o peixe social" do governo, forma sutil de atrair a simpatia dos pobres e lembrar-lhes que foram iluminados pelo programa Luz para Todos e salvos pela grana do Bolsa-Família. No ano em que se elegerão 5.564 prefeitos, isso não cria desequilíbrio, conforme denuncia o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio? O macaco Sócrates, personagem do antigo programa Planeta dos Homens, criado por Jô Soares, com o seu bordão, é o melhor intérprete do ciclo de extravagâncias que o País atravessa: "Não precisa explicar, eu só queria entender."

Causa angústia lembrar que vivemos num território onde o exemplo de quebra da ordem vem de cima.
LEIA MAIS
Google
online
Google