quarta-feira, fevereiro 24, 2010

deu em o globo

Raiz da corrupção (Editorial)

Entre as modalidades de negócios de alto risco está a compra de empresas quebradas com chances de um dia se recuperar.

A aposta, fonte potencial de enormes lucros, costuma ser feita por gente bem informada.

Parece ter sido o que fez, em 2005, Nelson dos Santos, dono da Star Overseas, sediada no paraíso fiscal das Ilhas Virgens britânicas, ao adquirir por preço simbólico (R$ 1) uma participação na Eletronet, criada em 1999, no governo FH, para ficar com a malha de fibras óticas da Eletrobrás e subsidiárias.

Trata-se de uma firma que, em 2003, havia requerido a autofalência, a pedido de um acionista, a Lightpar.

Muito endividada, a Eletronet também não interessou a um outro sócio, a americana AES. Um ano depois, os americanos venderam a participação de 50% à Contem Canada, e esta repassou metade das ações (25% do total da firma) à Star Overseas em troca de menos que um cafezinho.

Muita coisa aconteceu de lá até hoje, quando a Eletronet está prestes a ser o centro do Plano Nacional de Banda Larga (PNBL), o que poderá render ao bem informado Nelson dos Santos um lucro de R$ 200 milhões.

Quer dizer, duzentos milhões de vezes o capital investido na compra das ações. Segundo reportagem da “Folha de S.Paulo”, foi chave para Nelson dos Santos contratar, em março de 2007, o consultor José Dirceu, ex-ministro, mensaleiro processado, mas popular no PT e, pelo visto mais uma vez, com fácil trânsito em Brasília.

Coincidência ou não, em novembro daquele ano, o governo anunciou o plano de ressuscitar a Telebrás, mantida no respirador artificial apenas por questões legais.

A ressurreição seria necessária para fazer chegar o serviço de banda larga à população de baixa renda. Como? Pela rede da Eletronet.

Bingo!

Informa-se que, entre 2007 e 2009, o consultor Dirceu embolsou R$ 620 mil do cliente Nelson dos Santos, o bem informado empresário apostador.

Está difícil para governo acabar com a forte impressão de que um poderoso lobby agiu no Planalto a favor da Eletronet.

O controle da empresa está em disputa judicial. O governo ganhou, até agora. Mas, se perder no final, Nelson Santos terá mesmo dado grande tacada; ainda que faça acordo com a União.

O caso, independentemente do seu desfecho, se soma a outros em que também fica em xeque o padrão ético de militantes de esquerda que desembarcaram em Brasília em 2003 para salvar o país.

Tem ocorrido de tudo: conflito de interesses, corrupção, desvio de dinheiro público. Vale lembrar o jipe de luxo recebido por um secretário do PT, Sílvio Pereira, de uma em-preiteira fornecedora da Petrobras, a GDK.

Bem como o desvio comprovado de dinheiro do Banco do Brasil, por meio da Visanet, para o esquema do mensalão, golpe em que esteve à frente o petista Henrique Pizzolato, do aparelho sindical montado na cúpula do BB.

Há muitos pontos em comum nestas e outras histórias do tipo que se sucedem em Brasília desde o início da Era Lula.

Um dos fios que tecem essa colcha de retalhos de casos de desvios éticos — para dizer o mínimo — é o da expansão do Estado sobre a sociedade.

Sempre quando isso acontece — há exemplos históricos fora do Brasil, no Leste da Europa no Século XX — instala-se um amplo guichê de venda de favores por comissários e burocratas bem relacionados nos centros de poder.

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