domingo, janeiro 27, 2013

Um brinde a São Paulo

Jaime Lerner FOLHA DE SP 27-01-13

O Brasil sofre de paralisia aguda no avanço de obras de infraestrutura. A burocracia aprisionante faz da execução uma corrida de obstáculos
Toda vez que São Paulo faz aniversário, o Brasil inteiro deveria comemorar. Dínamo econômico e cultural, maior metrópole da América do Sul, encontro de muitas etnias, essa cidade é superlativa nas muitas contribuição que dá ao país.
Contudo o que se vê é uma apologia da tragédia. Em vez da celebração, veste-se um manto de masoquismo: São Paulo não tem jeito; é grande demais; suja demais, violenta demais; caótica demais. Parece que o paulistano se compraz em dizer que lá nada dá certo. E se uma voz dissonante se aventura a afirmar que há solução, é tratada com desconfiança ou até repúdio.
Não se trata de minimizar os problemas ou ignorar a realidade e, sim, de mudar de perspectiva, pois quem projeta a tragédia acaba por encontrá-la.
O que São Paulo demonstra é a potencialização dos dilemas das cidades brasileiras nas questões fundamentais à sua qualidade de vida -mobilidade, sustentabilidade, identidade, diversidade, coexistência-, em sintomas exacerbados de poluição, congestionamentos, insegurança, isolamento.
A vida de uma cidade não pode se dar dentro de carros, shoppings e condomínios fechados, convivendo com rios que tornam patentes deficits em saneamento ambiental, ou com a segregação de guetos de ricos e de pobres. A separação de funções e os muros dos condomínios retiraram de São Paulo a sua maior riqueza: sua diversidade.
A cidade tem que ser o cenário do encontro que se celebra em seus espaços públicos. Tem que ser uma estrutura integrada de vida, trabalho e mobilidade, onde uma estrutura de crescimento, guiada pelo transporte coletivo, molda o seu desenho.
Tem que cultivar sua identidade, a partir da preservação de sua história e memória, da valorização da diversidade e do cultivo da coexistência. Tem que proteger seus recursos ambientais, patrimônio desta e das futuras gerações.
E São Paulo pode tudo isso. Ambiciosa que é, com esforços bem canalizados, será capaz de promover transformações positivas ao deixar de pensar a cidade para o automóvel e investir com sabedoria no transporte público; ao trazer o jovem para habitar o centro; ao melhor equilibrar a oferta de emprego no território; ao cuidar para que as leis de uso do solo não contribuam para construir uma paisagem urbana ruim.
O preço de não agir é alto. A condição de vanguarda a qual São Paulo ambiciona pode ser dilapidada pelas perdas em qualidade de vida, ativo fundamental de uma cidade hoje.
É preciso fazer, e o país todo hoje sofre de uma paralisia aguda em avançar obras de infraestrutura. Com o intuito de evitar a corrupção ou danos ao patrimônio socioambiental, criou-se uma burocracia tão aprisionante que, além de não coibi-los, transformou a execução de qualquer projeto em uma corrida de obstáculos, na qual a viabilização de uma solução é travada até o limite da desistência. Pior, em um cenário onde os recursos existem. É uma perniciosa estrutura de desconfiança que inibe a ação.
Essa estrutura de desconfiança cria o medo de decidir: ora o Ministério Público, ora as organizações sociais, ora as inúmeras instâncias colocam aos que decidem e querem fazer o pavor de um processo no qual se é antecipadamente culpado; e aos que querem procrastinar ou vender facilidades, as desculpas e motivações para nada fazer.
Simplificar esse procedimento é fundamental, e o fato repousa na responsabilidade. Mas tem que ser possível assumi-la. É uma metáfora comum no futebol dizer que um jogador de talento "chamou pra si" a responsabilidade em um momento decisivo. Por que não podemos fazer isso pelas nossas cidades?
Está na hora de celebrar o aniversário de São Paulo com um brinde de autoestima. Ao metaforicamente apagar suas 459 velas, pedir pela graça de acreditar que as soluções são possíveis.

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quinta-feira, janeiro 24, 2013

Em cinco anos, Justiça extingue 12.434 cargos políticos em 78 cidades paulistas

Contratações para vagas em prefeituras que deveriam ser ocupadas por meio de concurso foram questionadas pela Procuradoria-Geral em ações diretas de inconstitucionalidade

Quinta, 24 de Janeiro de 2013, 00h23
Fausto Macedo e Daniel Bramatti, de O Estado de S. Paulo SÃO PAULO - Entre 2008 e 2012 a Procuradoria-Geral de Justiça de São Paulo requereu e a Justiça decretou a extinção de 12.434 cargos comissionados criados ilegalmente em 78 municípios paulistas. Por meio de ações diretas de inconstitucionalidade (Adins) o Ministério Público Estadual apontou ilegalidades na edição de leis municipais que abriram caminho para apadrinhamentos e contratação de servidores pelo critério político, sem realização de concurso público.
O Tribunal de Justiça do Estado, instância que detém competência para apreciar e julgar atos normativos de prefeitos e câmaras, acolheu as impugnações e declarou inconstitucional a criação de cargos em comissão que não retratam atribuições de assessoramento, chefia e direção. Em poucas situações o TJ preservou alguns quadros, julgando “parcialmente procedente” o pleito da Procuradoria.
Apaniguados foram contratados por executivos e legislativos para exercerem funções técnicas, burocráticas, operacionais e profissionais que deveriam “ser preenchidas por servidores públicos investidos em cargos de provimento efetivo”.
O Ministério Público apurou casos de prefeitos que até excluíram vagas de não concursados, mas na câmara municipal o projeto foi alterado, restabelecendo situações antigas. Muitas ações são relativas a contratações realizadas em exercícios anteriores a 2008. Há casos em que a Procuradoria foi alertada pelos próprios gestores que sucederam aos contratantes e verificaram abusos.

As ações questionaram preenchimento de cargos criados em afronta a dispositivo da Constituição Estadual que remete ao artigo 37 da Constituição Federal - investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso de provas e títulos, ressalvadas nomeações para postos em comissão.
A Procuradoria constatou que, entre os cargos criados estavam os de “agente municipal de crédito”, “chefe de serviços de cadastro único”, “chefe de serviços de gerenciamento da patrulha agrícola”, chefe de serviços de fiscalização de tributos e posturas” e “assessor de diretor”.
O número de vagas declaradas inconstitucionais equivale a 2,4 vezes o total de cargos de confiança no governo federal ocupados por servidores não concursados (5.926). Do total de 22.352 cargos federais do tipo DAS (Direção e Assessoramento Superior) nem todos são de livre nomeação - em 2005, um decreto do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou que parte das vagas fosse ocupada por funcionários concursados.
Em 2009 foram cassados 6.642 postos para comissionados de 25 municípios paulistas, como Americana (1.416 vagas questionadas) e Sumaré (996).
A Procuradoria-Geral de Justiça revela que em 2008 foram impugnados e declarados inconstitucionais 2.085 cargos em comissão instalados pelas administrações de 19 cidades. Em 2009, as ações visaram a um quadro mais amplo de cargos, 6.642, deles referentes a 25 cidades.
Autonomia. Em 2010, o Ministério Público questionou e obteve declaração de inconstitucionalidade de 2.460 cargos, em 25 cidades. Em 2011, foram impugnadas 1.237 vagas, em outras 22.
Ao ingressar com ação contra lei de Guararema, para criação de 160 cargos, o procurador-geral de Justiça, Márcio Fernando Elias Rosa, advertiu: “A Constituição consagrou o município como entidade indispensável ao nosso sistema federativo, integrando-o na organização político-administrativa e garantindo-lhe plena autonomia. Mas a autonomia concedida aos municípios não tem caráter absoluto e soberano. Pelo contrário, encontra limites nos princípios emanados dos poderes públicos e dos pactos fundamentais”.
Para o chefe do Ministério Público, “por força da autonomia administrativa de que foram dotadas, entidades municipais são livres para organizar os seus próprios serviços, segundo conveniências locais”.
Ele acentua que “a administração cria cargos e funções (...) estabelece vencimentos e vantagens e delimita os deveres e direitos de seus servidores”.
“Contudo, a liberdade conferida aos municípios para organizar os seus próprios serviços não é ampla e ilimitada”, acrescenta Elias Rosa. “Ela se subordina a regras fundamentais e impostergáveis, a que exige que essa organização se faça por lei, a que prevê a competência exclusiva da entidade ou poder interessado e a que impõe a observância das normas constitucionais pertinentes ao servidor público.”

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quarta-feira, janeiro 23, 2013

Corrupção e democracia
ESTADÃO - Quarta, 23 de Janeiro de 2013, 02h06
Eliana Cardoso * Com Rudi Dornbusch e a convite do Banco Central de Reserva del Perú, fui a Lima, em 1990, para trabalho sobre a inflação de 7.000% naquele ano. Na entrada do Banco Central, ao lado do detector de metais, havia uma estante onde, em escaninhos numerados, as pessoas deixavam os revólveres e outras armas e recebiam uma ficha correspondente a seus pertences. O país encontrava-se conturbado pela violência do Sendero Luminoso - um grupo guerrilheiro maoista que, antes de desaparecer, se tornaria responsável por 69 mil mortes.

Alberto Fujimori acabara de tomar posse e Rudi iria jantar com o presidente. Na última hora o convite se estendeu à diretora do Banco Central, com quem trabalhávamos, e me incluiu. Nosso carro percorreu as ruas de Lima, passou pelas bancadas de sopão, onde as pessoas esperavam em longas filas pelo único alimento do dia, e contornou um tanque de guerra...

No palácio, depois de um corredor comprido e mal iluminado, estavam a pequena sala de jantar e a mesa posta, com quatro paninhos puídos nas beiradas. O presidente entrou vestido numa guayabera. A empregada trouxe quatro Coca-Colas, uma travessa de espaguetes e, para a sobremesa, apenas duas porções individuais de pudim. Voltou 40 minutos mais tarde com outra travessa de espaguetes. A cozinheira, informada sobre o maior número de convidados, preparara segundas porções...

O presidente falava pouco e perguntava muito. Tive pena daquele político solitário e ainda desconhecido, sem uma base seja social, seja partidária. Ele liquidaria a hiperinflação e o Sendero, mas terminaria tragado pela corrupção e pelo poder de Vladimiro Montesinos, o chefe da polícia secreta que garantiu suas reeleições.

Montesinos subornou o Congresso, o Judiciário e a imprensa, mantendo a fachada democrática: os cidadãos votavam, os juízes decidiam, a mídia noticiava. Mas a negociação e a execução de acordos secretos drenavam a substância da democracia.

Embora possa parecer estranho, Montesinos mantinha registros meticulosos de suas operações: em contratos e recibos dos subornos, em vídeos das negociações ilícitas e das reuniões em que ele mesmo foi o corruptor. A lógica de suas ações deriva de que as fitas eram prova da cumplicidade dos outros e lhe davam o poder para destruir o presidente, impedindo Fujimori de demiti-lo. Constituíram fontes de dinheiro para suborno: o orçamento secreto do Serviço Nacional de Informação, somas recebidas por intermédio do Ministério do Interior e desvios de contratos com o Estado.

John McMillan e Pablo Zoido, da Universidade Stanford (How to subvert democracy, no Journal of Economic Literature), utilizaram os preços de suborno e concluíram que a forma mais forte de controle sobre o governo é a mídia. A julgar pelos subornos pagos e, portanto, pela preferência revelada de Montesinos, a televisão representava a maior ameaça ao poder do governo peruano. O suborno pago ao proprietário de um canal de televisão era cerca de cem vezes maior do que o pago a um político, que era um pouco maior do que o pago a um juiz.

Os pagamentos feitos a políticos ficavam, na sua maioria, entre US$ 5 mil e US$ 20 mil por mês, com alguns pagamentos de até US$ 100 mil, chamados de contribuições de campanha. Entre os meios de comunicação, o diretor do Expresso (um tabloide) recebeu US$ 1 milhão e El Tío (outro tabloide), US$ 1,5 milhão ao longo de dois anos. O Canal 4 recebia US$ 1,5 milhão por mês em propinas. Esses pagamentos subestimam os subornos, pois Montesinos canalizava mais dinheiro para os jornais e a televisão por meio de publicidade oficial.

A única empresa de televisão não subornada, o Canal N, continuou a oferecer jornalismo investigativo independente e levou ao ar pela primeira vez o vídeo que trouxe o regime abaixo. Em 2000, apenas três meses e meio depois da terceira vitória de Fujimori na eleição para presidente, o governo caiu, quando o Canal N exibiu o vídeo que mostrava o pagamento de Montesinos ao político de oposição Alberto Kouri. Outro vídeo mostrava Montesinos oferecendo a Alípio Montes de Oca, membro da Suprema Corte de Justiça, propina de US$ 10 mil por mês, além de atendimento médico e segurança pessoal e a presidência do Conselho Nacional de Eleições.

Os mecanismos democráticos complementam-se e reforçam-se uns aos outros, enquanto a ausência de um enfraquece todo o sistema democrático. Se um dos controles é fraco, todos o são. Nesse sentido, cada um deles é vital. No entanto, a televisão aparece como o limite crucial. Por quê?

Sua importância deriva do fato de que a mídia pertence ao mecanismo de constrangimento fundamental. Considere. A reação de grande número de cidadãos à violação das regras pode depor um governo. Entretanto, eles enfrentam um problema de coordenação, porque, na escolha de como agir, o cidadão precisa avaliar o que os outros farão. Falta de informação constitui a dificuldade-chave da coordenação. Não saber o que os outros sabem é suficiente para frustrar ações que precisam ser coordenadas. Ao informar a todos sobre violações do governo, a televisão ajuda a resolver o problema da coordenação, de vez que a transgressão se torna conhecimento comum.

A diferença entre a televisão e o jornal está no seu alcance: os subornos pagos a jornais impressos foram menores do que os pagos a canais televisivos, porque os peruanos preferem receber as notícias pela televisão. Demonstrando seu poder, foi ela que finalmente derrubou Alberto Fujimori.

Será que tudo isso importa? Poder-se-ia justificar a ação de Fujimori e Montesinos porque eles destruíram o Sendero Luminoso e puseram fim à hiperinflação? Nunca. Pois, ao acumular todos os Poderes (Legislativo, Executivo e Judiciário) nas mesmas mãos, a corrupção instaura a tirania e suas arbitrariedades. Ela nos leva de volta à barbárie.

* Eliana Cardoso é PH.D. pelo MIT e professora titular da FGV-São Paulo. Site: www.elianacardoso.com.

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terça-feira, janeiro 22, 2013

Mecanização: Problema ou Solução?, por Amilcar Centeno

Por Amilcar Silva Centeno.

Amilcar Centeno - Páginas Internas
Ao longo de minha vida profissional, quase toda dedicada à Mecanização Agrícola, ouvi por diversas vezes a crítica de que as máquinas causavam um grande problema no campo, reduzindo a oferta de empregos na agricultura.

Esta me parece apenas mais uma das tantas críticas dirigidas ao agronegócio de forma preconceituosa e sem embasamento na realidade.

Vamos examinar esta afirmação mais de perto e com base em fatos e dados.

Apesar de ter um impacto secundário na produtividade e na qualidade da produção agrícola, a mecanização é basicamente uma tecnologia que visa aumentar a capacidade de trabalho do ser humano. 

Não é difícil entender que um agricultor com uma enxada só é capaz de trabalhar uma área muito menor do que aquela trabalhada por um operador de um trator.Um agricultor trabalhando com tração animal no início do século XX necessitava de no mínimo 8 horas para trabalhar um hectare. 
Atualmente, apenas utilizando um simples trator, este mesmo agricultor necessita de apenas 2 horas para trabalhar a mesma área. 

Com este aumento na sua capacidade de trabalho, um agricultor que em meados do século XX alimentava cerca de 20 pessoas, hoje é capaz de alimentar, em média, aproximadamente 125 pessoas.

Isto torna a mecanização uma tecnologia fundamental para o papel da agricultura em alimentar o mundo. Afinal, com a rápida urbanização observada neste início do novo século em todas as partes do Mundo, cada um de nossos agricultores terá que alimentar um número cada vez maior de semelhantes vivendo nas cidades e incapazes de produzir o próprio alimento. 

Um bom exemplo disso foi o processo de desenvolvimento da agricultura americana, que no início do século XX tinha 70% de sua população no meio rural e terminou o século com apenas 3% de sua população dedicada à produção agrícola. Isto seria impossível sem ao desenvolvimento e a utilização das modernas máquinas que trabalham nas lavouras norte-americanas.

Outra questão muito discutida é se a mecanização causa desemprego ou se responde a uma tendência de migração da mão-de-obra rural para as cidades. Mais uma vez a velha questão: afinal o que vem primeiro, o ovo ou a galinha?

Esta é uma questão complexa e olhando-se para a história recente, talvez o mais correto fosse afirmar que os dois acontecem ao mesmo tempo na medida em que a agricultura moderna se desenvolve e expande. Nas sociedades de economia de livre mercado, este processo é comandado predominantemente por questões econômicas, principalmente no que diz respeito ao custo e à disponibilidade de mão-de-obra no campo.

Um exemplo recente tem sido a mecanização da colheita da cana-de-açúcar no Brasil. A comercialização de colhedoras de cana em nosso mercado costumava ser contada em dezenas até 2006. A partir de 2007 este volume saltou para centenas e agora milhares de unidades por ano. 

Este salto foi motivado principalmente pelo aumento do custo do corte manual, ao mesmo tempo em que, com o avanço da tecnologia das máquinas,reduziu-se o custo da colheita mecânica,tornando-a mais econômica do que a colheita manual. Esta mudança foi também motivada por legislações ambientais que restringiram a queima do canavial, condição imperativa  para a colheita manual.

Pesquisas realizadas ao longo deste período demonstraram que está ocorrendo um aumento na idade média do cortador de cana. Constatou-se que isto foi causado, principalmente, pelo fato dos cortadores mais jovens sentirem-se pouco atraídos por uma atividade brutal, quase escravizante. Houve até quem mencionasse que preferia ir para a cidade e juntar-se à criminalidade urbana do que cortar cana no campo. Afinal isto lhe proporcionava uma qualidade de vida melhor e um menor “risco operacional”!

Aliás, a melhoria do ambiente de trabalho é outra importante consequência da mecanização. Afinal, quem preferiria trabalhar com uma enxada debaixo de um sol tropical do que dentro de uma cabine climatizada, protegido do calor, da poeira e do ruído?

Outro grande benefício da mecanização é viabilizar a introdução de novas tecnologias de produção agrícola. A expansão do plantio direto, por exemplo, só foi possível após o desenvolvimento de plantadeiras que executassem a operação de forma correta e eficiente em nossas condições operacionais. Como mencionado anteriormente, a eliminação da queima dos canaviais só se tornou viável após a mecanização da operação. 

Para citar um exemplo corrente, a produção de algodão adensado nos Cerrados só será possível quando se desenvolver uma solução econômica que permita a manutenção da qualidade da fibra nestas condições de colheita.

Outra tecnologia de produção que seria inimaginável sem as máquinas é a Agricultura de Precisão. Neste processo as máquinas transformam-se em verdadeiros instrumento de coleta e de processamento de dados, permitindo o gerenciamento da enorme variabilidade do processo de produção agrícola.

Para finalizar, podemos afirmar que o forte processo de urbanização independe do processo de mecanização da agricultura. Porém, para que a urbanização aconteça de forma sustentável, é fundamental mecanizar a agricultura e multiplicar a capacidade de trabalho do homem do campo.  Portanto, a mecanização agrícola é uma tecnologia fundamental para vencer o desafio de alimentar uma população crescente e urbanizada como a que se desenvolve nesta primeira metade do Século XXI. 

Da próxima vez que passares por uma máquina agrícola ao longo da estrada, saúde o operador e não jogue poeira na máquina!
PENSE NISSO!

FONTE: http://www.noticiasagricolas.com.br/artigos/amilcar-centeno/116291-mecanizacao-problema-ou-solucaor--por-amilcar-centeno.html

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terça-feira, janeiro 15, 2013

Economia brasileira: credibilidade ameaçada, por Raul Velloso

Raul Velloso, O Globo
Credibilidade é tudo em economia. A nossa foi gradualmente dilapidada ao longo de várias “décadas perdidas”, e agora estamos diante de uma nova ameaça. Enfrentamos a crise da dívida de 1982 praticamente sem dólares no caixa, deixamos a situação social se deteriorar, e finalmente chegamos à hiperinflação. Até bem pouco, assim, a percepção externa era de que o Brasil estava preso num labirinto, sem chances de encontrar uma saída racional.
De 1995 a 2008, o quadro mudou radicalmente, pois domamos a inflação instituindo o tripé metas de inflação/superávits fiscais altos/câmbio flutuante e passando a controlar a dívida pública; reduzimos consideravelmente os índices de pobreza; e, sem recursos públicos, colocamos em prática um modelo de expansão dos serviços públicos baseado fortemente no capital privado.
Graças a isso, o crescimento sustentável do PIB passou de 2,7% para algo ao redor de 5% ao ano.
Há várias áreas problemáticas da atuação pública que ainda precisam ser azeitadas, algo que demandará bastante tempo. Temos sido incapazes de realizar uma reforma administrativa com letras maiúsculas, e, assim, uma área crítica é a de administração e gestão.
O problema previdenciário tende a se agravar consideravelmente nos próximos anos. Ou seja, há muito o que reestruturar.
Enquanto a produção industrial do mundo inteiro desabava com a crise de 2008/2009 e até hoje muitos continuam abaixo do pico prévio, a do Brasil caía igualmente, mas fomos campeões em recuperá-la ao nível prévio em apenas um ano.
Já em 2010, o PIB passava a crescer a 7,5%, deixando o mundo perplexo. Dobraram, assim, as apostas no Brasil como um dos principais destinos para investimento estrangeiro. Parecia que a crise, em que pese sua gravidade, não fora capaz de abalar a credibilidade construída ao longo da década precedente.
Só que, de lá para cá, tudo parece mudar no sentido oposto, criando-se rapidamente uma nova percepção desfavorável sobre o Brasil no exterior. As análises sintetizam a deterioração do quadro econômico com a constatação de que, apesar das promessas de algo melhor, o PIB só cresceu 2,7% em 2011 e deve crescer apenas 1% em 2012, longe dos 5% que parecia ser a taxa sustentável.
E, em adição, há cinco trimestres a razão investimento global/PIB só cai, depois de longo período em que subia seguidamente. Em parte, esse desempenho se explica pela desabada da produção (e talvez do investimento) industrial que, desde a rápida recuperação inicial pós-crise, só cai, em que pese medidas de apoio e a desvalorização do real.
Além disso, os resultados fiscais, computados sem manobras contábeis, vêm caindo sistematicamente, embora sem por em risco, ainda, a trajetória declinante da razão entre a dívida pública e o PIB.
E no setor de serviços, por que os investimentos não crescem mais? Ali, maiores rentabilidades seriam garantidas por demanda crescente e impossibilidade de importar. Nesse caso, contudo, sujeito a forte intervenção governamental, o ambiente de negócios para o setor privado em geral vem se tornando crescentemente desfavorável, diante da transição, que vem sendo posta em prática desde 2003, para um modelo de expansão que pode ser caracterizado como de capitalismo de estado, após a escalada liberal da era FHC.
Por essa visão, que guarda um certo paralelismo com o movimento antiliberal que se esboça no mundo desenvolvido em crise (veja, a propósito, o artigo de Dani Rodrik no “Valor” de 10/01/13), o ideal seria o próprio Estado atuar diretamente em vários segmentos da área de serviços, e oferecer os menores preços imagináveis para a sociedade.
Sem recursos, busca-se, alternativamente, um certo compadrio com segmentos do setor privado. Nesse esquema, o governo exige que o concessionário do serviço público cobre a menor tarifa imaginável pela prestação de serviços, em troca de empréstimos oficiais subsidiados e outras benesses que atenuem os efeitos deletérios sobre a as respectivas rentabilidades.
A maior limitação que trava essa transição aparece, contudo, no lado operacional. Na prática, as agências reguladoras estão se tornando parte da administração direta, e nesta a gestão pública é caótica.
Dessa forma, as coisas não andam, e, por exemplo, o desempenho das concessões da infraestrutura de transportes pós-2007, claramente sob um esquema de compadrio, tem sido abaixo da crítica.
É só comparar o montante de investimentos realizados nessa com os da fase anterior, e a situação das rodovias nos dois casos.
Setúbal, do Itaú, estava certo quando destacou recentemente, na “Folha de S.Paulo”, a importância de retornos atrativos para atiçar o espírito animal de empresários. A visão de que o capital privado só se excita quando vê demanda crescendo é míope. Para investir, é preciso ter retorno.
Se voltarmos a querer tocar o Brasil a partir de ideias populistas e estatizantes, que já não deram certo no passado, achando que há espaço fiscal para gastar mais (quando na realidade não há), daremos com os burros n’água.
Perderíamos credibilidade e o atual governo estaria queimando a herança bendita das últimas décadas.

Raul Velloso é economista


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sábado, janeiro 12, 2013

sexta-feira, janeiro 11, 2013

Tchauzinho, tucanada



            Com a tentativa frustrada, dia 1º de janeiro de 2013, de eleger o vereador Marmo Fogaça (PSDB) presidente da Câmara, os tucanos itapevenses levaram mais uma rasteira eleitoral, após o fiasco da campanha para prefeito em que o seu candidato quase ficou em terceiro lugar, encostado a um candidato sem história política. Sabe-se que por trás dessa facécia temerária, de querer eleger um vereador de partido derrotado presidente da Câmara, está o vereador Tarzan, cara de pau que luta para sobreviver politicamente, após 30 anos de mandato. O registro de sua candidatura foi negado por improbidade administrativa, pela Justiça Eleitoral, mas ele ainda aguarda decisão final do TSE, quer dizer, ainda existe séria ameaça de ele voltar para a Câmara. Livre-nos desse mal, oh poderoso São Judas Tadeu. O ex-vereador é como bode preto em horta, onde mete a boca morre (viu, Paulinho). Não satisfeito em esculhambar com o PSDB de Itapeva, ele esticou suas patas para Itararé e quase acabou com o partido lá ao patrocinar uma “intervenção branca”, em que usou até a prefeita Cecé, de Taquarivaí, a fim de defender o seu primo, vereador Rubens Doceiro, de expulsão do partido, e conseguiu, com apoio do Diretório Estadual. E os tucanos itarareenses de maior destaque do partido abandonaram a sigla; isso repercutiu negativamente e o candidato a prefeito Helinton que era franco favorito, ficou em terceiro lugar. Helinton foi mais uma vítima da lábia do Tarzan, que pagou caro por seu erro. E não foi por falta de aviso!
                                      Deputado Ulysses discípulo do Tarzan?
            A eleição para a Presidência da Câmara do vereador Júnior Guari (PMDB) foi a mais sensata do ponto de vista político, porquanto o seu partido deu um banho de votos nos adversários ao eleger o prefeito por votação expressiva. Caso vingasse a esperteza dos tucanos de eleger o Marmo, o prefeito Comeron ficaria à mercê do PSDB, uma heresia política. Tirar os tucanos da jogada foi uma demonstração de tino político do grupo que assumiu o poder, agora precisa cuidar para não deixar a peteca cair, pois vai haver outras investidas dos penachos para tomar as rédeas do processo político e envolver o prefeito Comeron em suas tramas. Não falta tucaninho psicopata para tentar.
            Por outro lado, do ponto de vista da esperteza política, quem de fato saiu vitorioso na eleição da Mesa foi o deputado Ulysses (PV) ao exigir, e conseguir, a eleição de seu filho Rodrigo Tassinari 1º Secretário da Câmara. Como se sabe, esse cargo é quase tão importante quanto ao da presidência (em alguns casos até mais); ao presidente cabe conduzir as sessões, a tramitação de projetos e representar o Legislativo nos eventos socioculturais, mas é o 1º Secretário quem cuida da administração financeira da Casa (controla a grana do legislativo) e, também, a pauta de trabalhos. Pergunta cretina: o que interessa mais em cargos políticos, lidar com a burocracia representativa, ou tomar conta do cofre? O papai Ulysses deve saber a resposta...
                                           Os corruptos perdem um aliado        
            Graças à esbórnia do mensalão, envolvendo dezenas de corruptos ligados ao PT e outros partidos, mudou o entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a exigência de “ato de ofício”, até então levado em conta nos julgamentos de corrupção daquela corte. Voltou a valer, com força total, o Artigo 317 do Código Penal para o julgamento de denúncias de corrupção ativa e passiva, que não mais exige prova inquestionável. Basta o agente público receber vantagem indevida e, pronto, se ferrou. Isso vai ajudar no combate à corrupção, inclusive nos municípios, e diminuir a impunidade de prefeitos e secretários; agora, os agentes públicos já sabem que é ilegal receber vantagem indevida, como propinas, porcentagens sobre compras e outros macetes, mesmo que não o façam formalmente, assinando documentos. Os procuradores garantem que isso irá se refletir nas ações penais, já em curso nas primeiras instâncias da Justiça. Portanto, os corruptos que se cuidem, pois a cobra agora vai fumar.


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sexta-feira, janeiro 04, 2013

COLUNA DO SPC NO JORNAL ITA NEWS


Itapeva vai melhorar? Espera-se que sim
            Com a posse do prefeito Roberto Comeron (PMDB) e da plêiade de secretários municipais, escolhidos a dedo (no bom sentido, claro), renasce no sentimento popular a expectativa de melhores dias para o município. Faz parte desse ideário otimista a esperança, sempre frustrada, de que haja, enfim, uma renovação político-administrativa da máquina municipal, que se mantém há décadas com a mesma estrutura arcaica em que cada secretário trabalha em sua área com agenda diária, dia a dia, sem planejamento, sem projetos, sem projeções futuras, raras as exceções. Se o prefeito Comeron for centralizador e autoritário, como o seu antecessor, então, não se pode esperar nada além de uma gestão medíocre em que se priorizam obras públicas, concreto de betoneira, ruas asfaltadas e se esquece do ser humano e suas necessidades.
            Não pretendemos explicitar, aqui, o que vem a ser uma administração moderna, basta dizer que a do prefeito Luiz Cavani (PSDB) foi arcaica, não inovou nada, manteve a estrutura de 30 anos atrás, além de não incentivar, nem exigir de seus secretários desempenho mais eficiente em suas funções; faltou ainda aos secretários uma efetiva articulação com áreas conexas às suas; era cada um por si, Deus por ninguém.
            Discurso e otimismo de araque não enchem barriga, prefeito e secretários precisam trabalhar sério, com afinco, não esperem a aprovação da opinião pública apenas com os discursos laudatórios de vereadores na Câmara, eternos bajuladores.
                                               A Câmara precisa melhorar
Os vereadores também precisam mudar de atitude, chega do mau costume de fazer vistas grossas para os malfeitos do Executivo, deixando passar licitações viciadas e aditivos foras da lei; fechar os olhos para os cambalachos das Secretarias, deixando a deus dará os recursos públicos tão essenciais para nossa cidade. Tem de ficar de olho.
Nesta eleição a Câmara foi bafejada pela sorte: o vereador Tarzan (PSDB), inimigo número um de Itapeva, não se elegeu. O nobre vereador era useiro e vezeiro em encobrir maracutaias de prefeitos; de apresentar projetos inúteis: dia do perdão, dia disso, dia daquilo, chegou a criar honraria com o nome de um vereador que, como ele, era um bajulador contumaz de prefeitos, inclusive, aprovando contas do Executivo rejeitadas pelo Tribunal de Contas. Uma dupla que se merecia. Mas já se foi.
                                          Paulinho, um masoquista incurável?
Quero relembrar, aqui, o quanto Paulo de la Rua e este escriba crepuscular foram amigos. Conheci o Paulinho criança, ranhento, teimoso, olhos vivos, de excelente família trabalhadora e honesta; Emilio, seu pai, foi pedreiro e sua mãe, Encarnación, lavava roupa pra fora; seus tios, emigrantes de uma Espanha atrasada, trabalhavam de sol a sol. Quando se lançou na política Paulinho era um jovem promissor, com tudo para dar certo e um dia, quem sabe, vir a ser prefeito de Itapeva, o seu grande sonho.
Mas, antes disso, para sua desgraça, em 1982, cismou de lançar na liça política o seu amigo e melhor balconista da casa de materiais: Paulo Roberto dos Santos, que, devido o porte franzino, foi apelidado Tarzan. Paulinho investiu no amigo e ele se elegeu vereador; pronto, ele armava a própria armadilha da qual, futuramente, não escaparia, sendo a vítima preferencial do Tarzan para várias sacanagens no escorregadio terreno da política. No decorrer dos anos, Tarzan traiu o amigo e benfeitor por diversas vezes; seria ocioso enumerar, aqui, quantas vezes isso ocorreu, mesmo assim, o Paulinho continuou acreditando e confiando no Tarzan. Seria um distúrbio mental que só Freud poderia explicar? Para nós, leigos em psicanálise, resta concluir que se trata de uma dicotomia entre sadismo e masoquismo. Sádico (aquele que tem prazer em fazer sofrer), Tarzan encontrou o seu complemento psicopatológico no amigo Paulinho, que deve ser masoquista (que gosta de sofrer). Aí, eles nunca mais se largaram. Como diz um velho ditado peruano: cuanto mas me aporreas, mas te quiero. Crendiospadre!


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quarta-feira, janeiro 02, 2013

01/01/2013 21h08 - Atualizado em 01/01/2013 21h08


Roberto Comeron assume a Prefeitura de Itapeva, SP

Centenas de pessoas acompanharam a cerimônia em um clube da cidade.
Vice-prefeito e os 15 vereadores também foram empossados.

Do G1 Itapetininga e Região
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O prefeito eleito em Itapeva (SP), Roberto Comeron, do PMDB, assumiu oficialmente o cargo nesta terça-feira (1º). A cerimônia de posse e a assinatura da ata de condução, realizadas no fim da tarde, marcaram a transição para a gestão municipial 2013-2016.
A posse foi acompanha por centenas de pessoas que lotaram um clube da cidade que recepcionou o evento. Também participaram da cerimônia autoridades e os novos secretariados anunciados pelo prefeito.
A sessão foi presidida ela vereadora Áurea Aparecida Rosa, mais votada nas Eleições 2012. Terminada esta primeira parte da cerimônia, Roberto Comeron, e o vice, Geraldo Tadeu, seguiram para a prefeitura onde foi assinada a ata. O ex-prefeito Luiz Cavani, passou o cargo ao novo chefe do executivo.
Ainda na cidade, os 15 vereadores que venceram as eleições foram conduzidos ao cargo. Os vereadores são: Aurea (PV), Junior Guari (PMDB), Wiliana (PR), Celio Cavaco (PR), Oziel Pires (PTB), Dr. Pedro Correa (PDT), Laercio Lopes (PMDB), Margarido (PV), Rodrigo Tassinari (PV), Marmo Fogaça (PSDB), Tião do Taxi (PT), Eliel Ferreira (PR), Jé (PMDB) e Toni do Cofesa (PSDB) e Preto Bairro de Cima (PTB).
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terça-feira, janeiro 01, 2013

Mandioca: fonte de energia e proteína na dieta de ruminantes

postado em 25/10/2007

FONTE: http://www.milkpoint.com.br/radar-tecnico/nutricao/mandioca-fonte-de-energia-e-proteina-na-dieta-de-ruminantes-40212n.aspx
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Por Roberto Guimarães Júnior, Francisco Duarte Fernandes, Eduardo Alano Vieira e Josefino de Freitas Fialho1


Introdução

A utilização de alimentos alternativos na alimentação animal tem se constituído em uma estratégia de grande valia na redução dos custos de produção. A mandioca (Manihot esculenta Crantz) é uma planta nativa do Brasil que possui boas características nutritivas, uma ampla variedade de utilização e que pode ser utilizada na dieta de ruminantes. A sua utilização na alimentação de ruminantes apresenta vantagens, uma vez que ela substitui fontes de alimentos energéticos tradicionalmente utilizados na dieta de monogástricos, e por isso de custo elevado, bem como se constitui em uma fonte suplementar de alimento volumoso e proteínas.

No Brasil estima-se que a área plantada de mandioca seja de 2 milhões de hectares, apresentando uma produtividade média de 13 toneladas de raízes e 12 toneladas de matéria verde de parte aérea por hectare. A cultura apresenta elevado potencial produtivo, chegando a produzir até 25 toneladas de parte aérea e 40 toneladas de raízes frescas por hectare.

A maior parte das raízes da mandioca é destinada à indústria ou ao consumo humano, no entanto, parte da produção inadequada para esta finalidade pode destinada à alimentação animal. Quanto à parte aérea, uma quantidade significativa descartada no campo poderia ser utilizada para alimentação de ruminantes.

Esse artigo tem por objetivo discutir as possibilidades de utilização da planta da mandioca na alimentação de animais ruminantes.

Formas de utilização da mandioca na alimentação de ruminantes

Em termos nutricionais, a mandioca se destaca por ser uma cultura de duplo propósito (Preston, 2001), ou seja, ela pode ser utilizada na dieta como fonte de energia (raízes) e também proteína (parte aérea). A mandioca de mesa ("mansa") pode ser fornecida "in natura" na alimentação de ruminantes sem causar problemas de intoxicação. No caso da mandioca de indústria ("brava") somente deve ser fornecida depois de triturada e exposta ao sol por um período mínimo de 24 horas, em função do elevado teor de ácido cianídrico.

Diversas são as formas de utilização da mandioca na alimentação de ruminantes. No entanto, as principais são: raiz de mandioca fresca; parte aérea de mandioca fresca; silagem da planta integral de mandioca (planta integral, triturada e ensilada); silagem de raiz de mandioca (raiz, triturada e ensilada); silagem da parte aérea da mandioca (parte aérea, triturada e ensilada); feno de mandioca (parte aérea, triturada e seca ao sol); farinha integral ou raspa integral (raiz moída ou picada e seca ao sol); farelo de raspas ou raspa residual (subproduto resultante da extração do amido); farelo de farinha de mesa (subproduto resultante da fabricação de farinha de mesa).

Características nutricionais da parte aérea e raiz de mandioca

A parte aérea da mandioca é constituída pelas hastes principais, ramos e folhas em proporções variáveis. É um material que apresenta elevada concentração protéica (principalmente o terço superior, com teores superiores a 20%) e boa palatabilidade. É rica em vitaminas A, C e do complexo B, e apresenta boa concentração de minerais, sendo incluída, principalmente, na dieta de ruminantes nas formas in natura, feno ou silagem.

A raiz da mandioca é rica em energia, possui baixa quantidade de fibras e proteínas, boa palatabilidade e elevado coeficiente de digestibilidade (Carvalho, 1983). Por essas características vem sendo utilizada na forma fresca, ensilada e desidratada (raspa de mandioca ou farelo de raspa) como uma importante fonte de energia em substituição ao milho em dietas de ruminantes.

Médias de composição química produzidas com dados de vários estudos foram apresentadas por Carvalho (1984), onde a parte aérea da mandioca avaliada quando as raízes estavam em seu estádio ótimo de desenvolvimento apresentou 25% de matéria seca, 16% de proteína bruta, 45,0% de carboidratos, 14,5% de fibra bruta, 7,5% de gordura e 12,0% de cinzas.

A composição química da parte aérea da mandioca e das raízes é significativamente influenciada pela variedade (Carvalho, 1984; Von Tiesenhausen, 1987; Moura e Costa, 2001). Desta forma, a determinação do valor nutricional da parte aérea e subterrânea de variedades de mandioca é de grande interesse para balanceamento racional de dietas na nutrição animal.

Resumo do manejo e preparo das raízes e parte aérea para alimentação animal

Parte Aérea

- Recomenda-se que a parte aérea da mandioca, antes de ser fornecida aos animais, seja picada manualmente ou em picadeiras elétricas e colocadas para secar durante um a dois dias. Este material após secagem é chamado de feno da parte aérea de mandioca;

- Toda a parte aérea pode ser consumida pelos animais. Entretanto, com a utilização de apenas o terço superior da planta (as ponteiras, parte mais tenra da planta), um Feno de melhor qualidade (mais rico em proteínas), será produzido, apesar da menor quantidade de material obtido;

- O fardo de feno, quando bem seco, deverá ser armazenado em lugar fresco e ventilado, para ser utilizado à medida do necessário;

- Outra forma de utilizar a parte aérea é na forma de silagem. Após picada e ainda verde ou fresca, a planta é colocada sob compactação, no silo, até o enchimento total do mesmo. O silo deverá ser vedado com lona plástica, e acima da lona deverá ser colocada uma camada de cerca de 5 cm de terra. Aconselha-se a abertura do silo após trinta dias após do seu enchimento.

Raízes

- As raízes de variedades de mandioca mansa ou macaxeiras poderão ser picadas e fornecidas imediatamente aos animais.

- As raízes de variedades de mandioca para indústria ou bravas, deverão ser picadas, colocadas para secar, durante um a dois dias, antes de serem fornecidas para os animais. Este material após a secagem é chamado de raspa de raízes de mandioca.

- A raspa poderá ser preparada tanto da mandioca para indústria, quanto da mandioca para mesa, principalmente quando se pretende armazenar o produto para fornecer aos animais em períodos de escassez de alimentos. Neste caso a raspa deverá estar bem seca, com, pelo menos 14% de umidade, que na prática poderá ser verificado quando um pedaço estiver riscando como giz.

Pesquisa participativa

O grupo de pesquisa com mandioca da Embrapa Cerrados atua em projetos que visam avaliar e selecionar juntamente com agricultores e extensionistas variedades de mandioca, por meio da metodologia da pesquisa participativa. O principal objetivo desses projetos é a indicação de variedades com maior potencial produtivo, melhor qualidade fisiológica e maior aceitação pelos produtores.

Dias de campo são organizados, com a realização de palestras sobre diversos assuntos relacionados ao tema, como melhoramento genético, cadeia produtiva, pragas e doenças e a utilização da mandioca na alimentação animal. Esse trabalho tem como principais parceiros externos, os Produtores Rurais e a Fundação Banco do Brasil.

Referências Bibliográficas

CARVALHO, J.L.H. A Mandioca - Raiz e parte aérea na alimentação animal. Circular Técnica n. 17, Brasília: Embrapa CPAC, 1983. 44p.

CARVALHO, J.L.H. A parte aérea da mandioca na alimentação animal. Informe Agropecuário. v.119, n.10, p.28-36, 1984.

MOURA, G.M., COSTA, N.L. Efeito da freqüência e altura de poda na produtividade de raízes e parte aérea em mandioca. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, n.8, p.1053-1059, 2001.

PRESTON, T.R. Potential of cassava in integrated farming systems. In: INTERNATIONAL WORKSHOP CURRENT RESERCH AND DEVELOPMENT ON USE OF CASSAVA AS ANIMAL FEED, 2001, Khon Kaen. Proceedings. Khon Kaen: Khon Kaen University: SIDA-SAREC, 2001. Disponível em http://www.mekarn.org/procKK/pres.htm Acesso em: 01 de maio de 2007.

VON TIESENHAUSEN, I.M.E.V. O feno e a silagem da rama de mandioca na alimentação de ruminantes. Informe Agropecuário. v.13, n.145, p.42-47, 1987.

Fotos:


Confecção da Raspa de raízes de mandioca
Fonte: Vieira e Fialho (2007). Comunidade em Arinos - MG


Confecção da Raspa de raízes de mandioca
Fonte: Vieira e Fialho (2007). Comunidade em Arinos - MG


Confecção da silagem da parte aérea da mandioca - silo de superfície
Fonte: Vieira e Fialho (2007). Comunidade em Arinos - MG


Confecção do feno da parte aérea da mandioca
Fonte: Vieira e Fialho (2007). Comunidade em Arinos - MG

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1Pesquisadores da Embrapa Cerrados


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