quinta-feira, fevereiro 28, 2013



por Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos

Um pouco de luz para os serviços de recuperação e conservação das estradas vicinais de terra



A rede brasileira de estradas de rodagem alcança um total de aproximadamente 1.750.000 quilômetros, dos quais cerca de 1.580.000 correspondem a estradas vicinais e rurais de terra.

No Estado de São Paulo, o estado mais desenvolvido do país, a rede rodoviária total atinge cerca de 200.000 quilômetros, dos quais cerca de apenas 27.000 correspondem a rodovias pavimentadas, ou seja, menos de 15% do total. 



Desses números depreende-se de forma clara e inequívoca a importância da rede rodoviária de estradas de terra para a economia nacional e as economias estaduais e municipais. Grande parte de nossa produção agrícola e agroindustrial é ainda transportada, especialmente nos trechos iniciais de suas rotas, por estradas de terra. 

Como também, na zona rural milhões de pessoas utilizam-se diariamente dessas estradas nas suas locomoções para o trabalho, para escolas, para atendimentos de saúde, para vender e comprar mercadorias, enfim para todos os tipos de atividades humanas que exigem algum deslocamento. 

Diante dessa importância social e econômica para o país e seus cidadãos, choca o fato dessa extensa rede rodoviária encontrar-se, há já algumas décadas, literalmente abandonada; do que decorrem suas péssimas condições de tráfego. Mas, diferentemente do abandono a que também está submetida a rede de rodovias pavimentadas, e onde o problema básico está na falta de investimentos em obras de infra-estrutura, o caso das estradas de terra envolve uma importante questão de ordem tecnológica. 

Necessário considerar, de início, que frente à extensão da rede rodoviária de estradas de terra não faz sentido pensarmos na pavimentação como solução para esse tipo de rodovia, dados os astronômicos custos que para tanto seriam necessários, ou seja, o desafio para a recuperação dessas vias está inteiramente associado a uma correta operação técnica e logística de permanentes serviços de conservação especificamente orientados para esse tipo de estrada. 

Quanto ao aspecto tecnológico, convém ressaltar que nossas estradas de terra, especialmente a partir da década de 50 do século XX, passaram a ser solicitadas progressivamente por um trânsito mais intenso e por veículos mais pesados e, portanto, por um tipo de tráfego que maiores desgastes impõe às pistas. 

Paralelamente a essa alteração no tipo de tráfego, acontecia nessas décadas uma mudança radical nas tecnologias de conservação das estradas de terra. Do antigo sistema apoiado na histórica figura do “conserveiro”, qual seja o funcionário cuja missão permanente estava na da correção de pequenos defeitos em um combinado trecho viário (algo como 5 a 10 quilômetros por “conserveiro”), impedindo a evolução de problemas por atacá-los logo em seu início, passou-se aceleradamente para uma conservação essencialmente baseada na utilização periódica da “patrol”, qual seja a moto-niveladora, normalmente proporcionada pelas Prefeituras dos municípios em que os trechos se localizavam ou por programas estaduais de apoio. 

A adoção intempestiva da tecnologia de conservação apoiada na utilização periódica da patrol constituiu um desastre para nossa rede de estradas de terra. E ajuda em muito explicar o atual lamentável estado em que se encontram. As ilusórias ótimas condições de tráfego que se observam logo após a passagem da moto-niveladora (“aquilo ficou parecendo uma mesa de bilhar!”) na verdade escondem o iminente desastre que se seguirá logo à frente com as primeiras chuvas. 

O fato é que a patrol nivela a pista tendo como referência o nível de fundo dos buracos. Isto é, ela remove, raspa a camada superficial originalmente compactada pelo tráfego até atingir o nível dos fundos dos buracos, deixando a pista perfeitamente lisa e aprumada, mas em um nível mais profundo, em que os materiais são geralmente de pior qualidade geotécnica, não estão compactados e são mais facilmente erodíveis. Como conseqüência também gravíssima, com o constante aprofundamento da pista, decorrente da patrolagem sistemática, a estrada vai ficando encaixada, com taludes (barrancos) laterais que impedem que as águas de chuva sejam drenadas (sangradas) para os terrenos laterais. Resultado, mais água corre pela pista, o que vai gerar erosões enormes, verdadeiras ravinas que vão destruindo por completo a plataforma, dificultando e encarecendo sua recuperação. 

A adoção descriteriosa da conservação por equipamentos mecânicos (observar que aqui não se critica o uso de maquinário, mas sim seu uso sem nenhum cuidado tecnológico que aproveite suas vantagens e evite suas desvantagens) também implicou que não mais se levasse em conta as diferentes características geológicas dos terrenos atravessados por nossas vias rurais. E que, de alguma forma, determinavam seus tipos mais comuns de problemas, a possibilidade de existência nas proximidades de materiais de empréstimo adequados ou não, e outros aspectos técnicos fundamentais para uma boa prática de conservação. 

Outro aspecto de ordem tecnológica: com o desaparecimento da figura do “conserveiro” e dos mestres de obra que orientavam seus trabalhos, muita técnica boa de conservação se perdeu, uma vez que esses conhecimentos empíricos nunca foram devidamente registrados ou ensinados para o aproveitamento de outras gerações de funcionários. 

Em resumo, um bom programa de conservação e recuperação de nossas estradas de terra tem que forçosamente levar em consideração todas essas questões de ordem tecnológica. Como apoio a programas que pretendessem considerar essa abordagem, uma equipe técnica coordenada pelo autor desse artigo produziu em 1985 o MANUAL TÉCNICO PARA CONSERVAÇÃO E RECUPERAÇÃO DE ESTRADAS VICINAIS DE TERRA, editado pelo IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, com o apoio da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico. 

A elaboração desse Manual implicou em um intenso trabalho de campo de resgate de técnicas já abandonadas e de desenvolvimento de novas técnicas mais compatíveis com as condições atuais de tráfego e com os equipamentos atualmente disponíveis. 

Teve também esse Manual o cuidado de, em linguagem simples, trazer uma série de informações técnicas para seu leitor e usuário, de tal forma que conhecendo o comportamento e características geotécnicas dos diferentes materiais naturais (argila, silte, areias, cascalhos, piçarras ...) e dos diferentes tipos de tratamentos primários que pode se dar à pista de rolamento (revestimento primário, agulhamento, mistura areia-argila, reforço do sub-leito...), ele próprio pudesse ter a capacidade de criar boas soluções frente às características geológicas de sua área de trabalho. 

Uma outra grande vantagem do Manual é que orienta o leitor a chegar à solução mais adequada a partir do próprio problema que a estrada apresenta. Ou seja, perceber que o aparecimento de um determinado problema (ondulações, rodeiros, atoleiros, areiões de espigão, areiões de baixada, excesso de pó, rocha aflorante, pista molhada derrapante, pista seca derrapante, costelas de vaca, segregação lateral de cascalho, buracos, erosões em ravina, etc) certamente permitirá identificar suas causas e, portanto, saber como corrigi-lo. 

O referido Manual foi na época (1985) distribuído a milhares de municípios brasileiros. Tal foi o número de pedidos que teve uma reedição em 1988. Mas essas coisas acabam se perdendo em fundos de gavetas ou até não chegando ao conhecimento das pessoas devidas. Sugerimos às Prefeituras e aos leitores interessados que solicitem-no através do endereço eletrônico do IPT: www.ipt.br. 

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A indústria da transparência


Autor(es): Gil Castello Branco
O Estado de S. Paulo - 25/02/2013

É conhecida a piada do sujeito que pediu di­nheiro emprestado ao amigo alegando que a mulher estava grávida, prestes a ter o bebê, e ele, despreparado. O amigo, esperto, respondeu- lhe: "Se você, que já sabia disso há nove meses, está desprepara­do, imagine eu, que acabo de ser informado...".
A história vem à tona na oca­sião em que algumas prefeituras estão reclamando da vigência plena da Lei Complementar n.º 131, que determina a divulgação das receitas e despesas na inter­net, de forma online e pormeno­rizada. A chamada "Lei da Trans­parência", de autoria do senador João Capiberibe, foi aprovada em 27 de maio de 2009, com pra­zos gradativos para a implanta­ção dos portais. Até o momento, 612 cidades brasileiras com mais de 50 mil habitantes estão obri­gadas a alimentar os seus sites com informações sobre a execu­ção orçamentária. Daqui a três meses, entretanto, a norma abrangerá todos os 5.570 municí­pios do Brasil. Assim, novas 4.958 cidades, com população in­ferior a 50 mil habitantes, terão de construir ou aprimorar os seus portais. Como sabiam dis­so há quatro anos, é curioso que algumas prefeituras aleguem es­tar despreparadas.
Na verdade, os políticos gostam de muita transparência, mas nos governos dos adversá­rios. Mas, se os recém-eleitos ou reeleitos quiserem mesmo ser transparentes, deverão colocar nos sites o orçamento previsto e a execução, a origem da receita, as dívidas, os pagamentos a pes­soas físicas e jurídicas, os nomes dos funcionários públicos com os respectivos cargos e salários, o que foi comprado, por quanto, de quem, os bens adquiridos e os serviços prestados, as licitações, os contratos e os programas im­plementados, entre outras infor­mações relevantes para a socie­dade saber o que está sendo fei­to à custa dos seus impostos, ta­xas e contribuições.
Como desde a Lei de Respon­sabilidade Fiscal (LRF), publica­da em 4 de maio de 2000, os mu­nicípios encaminham à Secreta­ria do Tesouro Nacional (STN) o Relatório Resumido de Execu­ção Orçamentária (RREO) e o Relatório de Gestão Fiscal (RGF), as informações existem. Agora é colocá-las na internet.
Para a lei ser cumprida, não bastará o site municipal conter o currículo e a foto do prefeito, o telefone do Corpo de Bombeiros e outras informações do gênero. O detalhamento será fundamen­tal para que sejam multiplicados os "auditores", o que irá aprimo­rar as administrações públicas. Caso a Secretaria do Tesouro Nacional leve o assunto a sério, o  descumprimento da legislação  poderá implicar a suspensão das transferências voluntárias.
Em São Paulo, por exemplo, prefeitos de 518 cidades deverão inaugurar ou melhorar os por­tais existentes. Dentre essas lo­calidades estão, por exemplo, Campos do Jordão, com população próxima a 50 mil habitantes, e, no outro extremo, o município de Borá, com apenas 807 cidadãos. E, a julgar pela análise que a Associação Contas Aber­tas realizou dos portais das cida­des paulistas já abrangidas pela lei, a implantação dos sites nos demais municípios do Estado de São Paulo será uma odisseia.
Com base em 105 critérios es­tabelecidos por especialistas da Unicamp, FGV, Universidade de Brasília, Tribunal de Contas dos Municípios do Ceará, Con- troladoria-Geral da União, Asso­ciação Brasileira de Jornalismo Investigativo e da própria Con­tas Abertas, foi criado o índice de Transparência, que atribuinotas de zero a dez para os muni­cípios com menor ou maior clareza nas informações que pres­tam à sociedade.
A nota média de 3,97 dos 124 municípios analisados em outu­bro do ano passado demonstra a má qualidade dos portais das maiores cidades do Estado de São Paulo. Além disso, 70% dos municípios tiveram de contra­tar empresas de informática pa­ra a construção dos seus sítios. Quanto menor o município,  maior foi a tendência de recor­rer à iniciativa privada. Apenas três empresas desenvolveram os portais de 59 municípios. Exis­tem portais praticamente idênti­cos em diferentes cidades.
Com o mercado multiplicado, está em funcionamento verda­deira "indústria de transparên­cia". Representantes de empre­sas de informática rondam as ci­dades brasileiras para oferecer serviços, o que é legítimo. Na rea­lidade, o problema não são os portais terem sido desenvolvi­dos por um órgão público ou pri­vado. O crucial é que a qualidade deixa muito a desejar, inviabili­zando o efetivo controle social.
Diante da amostragem dos 124 municípios paulistas, não é difícil imaginar o que poderá acontecer nas 4.958 cidades bra­sileiras que nos próximos três meses terão decolocar as suas contas na web. Em curto prazo, a atividade de confeccionar sites tende a ser altamente lucrativa para alguns empresários e extre­mamente onerosa para os milha­res de cidades brasileiras.
Neste cenário, cabe aos Esta­dos e às prefeituras de maior por­te que possuem bons portais co­laborar com os pequenos muni­cípios. No fim do ano passado, o Conselho de Transparência da Administração Pública do Esta­do de São Paulo - formado por representantes dos Poderes Exe­cutivo, Legislativo e Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, além de entidades não governamentais - interes­sou-se pelo tema e sugeriu que os órgãos estaduais afins auxi­liem na difícil tarefa a ser cum­prida pelas cidades paulistas de menor porte. A ideia pode ser replicada em outros Estados. Afinal, se empresas de informáti­ca podem implantar o mesmo portal em várias cidades, o Esta­do poderá fazê-lo com melhor qualidade e menor custo para os contribuintes.
Há quase um século, o juiz americano Louis Brandeis disse que "a luz do sol é o melhor dos desinfetantes", referindo-se ao sistema financeiro americano. No Brasil, existe uma luz no fim do túnel e a transparência, aos trancos e barrancos, está a cami­nho. A criança precisa nascer em breve, forte e saudável, estejam ou não os pais preparados.

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FONTE: http://www.sif.org.br/palestras/preservacao.pdf
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domingo, fevereiro 24, 2013



Pobreza extrema deve sumir, mas a desigualdade persiste
MARCELO MEDEIROS ESPECIAL PARA A FOLHA de SP de hoje
Ao final dos anos 1940 o Brasil tinha um problema prioritário: a fome.

É nessa época que Josué de Castro publica "Geografia da Fome - O Dilema Brasileiro: Pão ou Aço". O livro destaca, com uma lucidez impressionante, o papel que a injustiça social tem sobre a fome. O dilema estava colocado, e o Brasil optou pelo aço, apostando no crescimento em vez de investir na igualdade.

Todavia, no final dos anos 1990, o que Josué de Castro chamava de fome total, a desnutrição profunda, já caminhava para níveis residuais: o Brasil fazia a transição da desnutrição para a obesidade dos pobres -de certo modo, uma fome oculta, na qual se come todos os dias, mas mal.

Há mais por trás da obesidade do que simplesmente a falta de renda para comprar alimentos saudáveis, mas não havia dúvida de que, para mudar esse quadro, pensar no futuro significava pensar em resolver o problema da pobreza.

Essa fome oculta continua existindo, mas o fato é que a pobreza começou a diminuir.

Uma combinação de recuperação econômica com políticas sociais e de trabalho fez com que a renda dos pobres aumentasse. Além de uma economia mais forte, aumentos do salário mínimo, da cobertura previdenciária e a expansão de dois programas de assistência social -o Benefício de Prestação Continuada e o programa Bolsa Família- ajudaram a reduzir a pobreza no país.

Toda pobreza é extrema, mas é justo priorizar os pobres em piores condições. Hoje, a indigência no país segue o caminho antes percorrido pela desnutrição profunda e ruma ao desaparecimento.

A evolução da economia, um aumento nos gastos com a assistência social e a priorização dos mais pobres devem erradicá-la ainda nesta década. O fim iminente da indigência é uma ótima notícia, mas ainda há muito a fazer, pois continuamos entre os países mais desiguais do mundo.

O dilema continua sendo entre pão e aço, mas em um nível diferente. Se por um lado a indigência entre os 15% mais pobres irá desaparecer em breve, por outro o 1% mais rico da população ainda detém 17% da renda do país, segundo o Censo 2010, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Um Brasil muito mais desenvolvido que o de Josué de Castro pode ambicionar bem mais do que acabar com a indigência, mas daqui para frente o desafio é maior: reduzir o abismo entre os ricos e o resto da população.


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segunda-feira, fevereiro 18, 2013


The Economist chama políticos brasileiros de 'zumbis'

No artigo, revista britânica cita como exemplo o presidente do Senado, Renan Calheiros

Segunda, 18 de Fevereiro de 2013, 19h12
O Estado de S. Paulo SÃO PAULO - A revista britânica The Economist classificou os políticos brasileiros, citando como exemplo o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), de "zumbis". O artigo publicado no último sábado, 16, analisou a manutenção do poder político de figuras públicas envolvidas em casos de corrupção, em alguns casos já até condenadas.

"Apesar de sérias alegações de corrupção, a velha guarda continua voltando", escreveu o semanário no subtítulo do artigo.

A análise relembra a última eleição de Renan à presidência do Senado em 2007, quando foi obrigado a renunciar por ter sido acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista de construtora. O texto enfatiza também o fato de a presidente Dilma Rousseff ter aceitado a candidatura de Renan depois de ter sido rígida na punição de ministros enredados em episódios de corrupção.

No artigo, Renan é também tido como um "novo exemplo bem estabelecido de fenômeno brasileiro": do político que não é atingido por denúncias. "O Senhor Calheiros é o mais novo exemplo de um bem estabelecido fenômeno brasileiro: o político que consegue sobreviver a qualquer número de pancadas aparentemente fatais", resume o semanário.

Outros casos são relembrados pela The Economist. Cita o julgamento do mensalão e também outros políticos condenados por corrupção como os deputado Paulo Maluf (PP) e José Genoino (PT), com críticas de que eles ainda assim continuam exercendo seus mandatos no Congresso.

"Um terço dos legisladores do Brasil ou foram condenados ou estão sendo investigados por crimes que vão de compra de votos a roubo e exploração da escravidão", diz o texto.

Apesar disso, a revista mostra que a população se mobilizou em protesto contra mais um exemplo de manutenção de políticos acusados de corrupção no poder público. Uma petição foi aberta na internet pedindo o impeachment de Renan Calheiros, atingindo 1,36 milhão de assinaturas, o suficiente para levar a demanda ao Congresso.

"Brasileiros ainda têm esperança de que os zumbis políticos sejam postos para dormir", termina o texto.

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A marca de um papa

Segunda, 18 de Fevereiro de 2013, 02h03
ESTADAO - Carlos Alberto Di Franco * O mundo, atônito, recebeu a notícia da renúncia de Bento XVI. A decisão, inusual nas plataformas de poder, reflete coragem moral e humildade. O papa deixa uma marca de coerência e de extraordinário vigor intelectual. Num mundo algemado pelos grilhões do ceticismo, o pensamento do papa é uma forte estocada e uma provocação. De Santo Agostinho a Lutero, Kant, Bacon e Engels, homens da Igreja, santos e filósofos, ortodoxos e heterodoxos, desfilam nos textos do papa como protagonistas da nostalgia de Deus do ser humano.

Bento XVI desnuda a inconsistência das esperanças materialistas e faz uma crítica serena, mas profunda, à utopia marxista. Segundo o papa, Marx mostrou com exatidão como realizar a derrubada das estruturas. "Mas não nos disse como as coisas deveriam proceder depois. Ele supunha simplesmente que, com a expropriação da classe dominante, a queda do poder político e a socialização dos meios de produção, ter-se-ia realizado a Nova Jerusalém." Marx "esqueceu que o homem permanece sempre homem. Esqueceu o homem e sua liberdade. Esqueceu que a liberdade permanece sempre liberdade, inclusive para o mal. (...) O seu verdadeiro erro é o materialismo: de fato, o homem não é só o produto de condições econômicas nem se pode curá-lo apenas do exterior. (...) Não é a ciência que redime o homem. O homem é redimido pelo amor".

O cerne do pensamento do papa, um vibrante e realista apelo à genuína esperança cristã, é a antítese do surrado discurso dos teólogos da libertação que, com teimosa monotonia, apostam no advento da utópica Jerusalém terrena. As injustiças, frequentemente escandalosas e brutais, devem ser enfrentadas e superadas, mas não há o paraíso neste mundo. E o papel da Igreja Católica, não obstante seu compromisso preferencial com os pobres e desvalidos, é essencialmente espiritual.

Bento XVI não contorna os temas difíceis ou politicamente corretos. Na contramão de certo ativismo eclesiástico, aponta a oração como "primeiro e essencial lugar" da esperança. "Quando já ninguém me escuta, Deus ainda me ouve." Sugestivamente, o papa evocou o falecido cardeal vietnamita Nguyen Van Thuan, que, após 13 anos na prisão comunista, 9 dos quais numa solitária, escreveu Orações na Esperança. "Numa situação de desespero aparentemente total, a escuta de Deus, o poder falar-Lhe, tornou-se para ele uma força crescente de esperança, que, depois da sua libertação, lhe permitiu ser para os homens em todo o mundo uma testemunha daquela grande esperança que não declina, mesmo nas noites de solidão."

A mensagem de Bento XVI, direta e sem concessões, tem repercutido com força surpreendente. Seu desempenho, sobretudo no meio jovem, é uma charada que desafia o pretenso feeling de certos estudiosos do comportamento. Afinal, o estereótipo do papa conservador, obstinadamente apegado aos valores que estariam em rota de colisão com a modernidade, foi sendo contestado pela força dos fatos e pela eloquência dos números.

As Jornadas Mundiais da Juventude têm sido um bom exemplo do descompasso entre as profecias de certos vaticanólogos e a verdade factual. Crescentes multidões multicoloridas, usando tênis e mochilas, transformaram esse avô da cristandade num indiscutível fenômeno de massas.

Vem-me à lembrança, enquanto escrevo este artigo premido pela renúncia do papa, a cobertura que fiz para o jornal O Estado de S. Paulo, em outubro de 2003, do 25.º aniversário do pontificado de João Paulo II. Lembro-me, entre outros, de um depoimento sugestivo. Bruno Mastroianni era um jovem filósofo romano. Sobrinho de Marcello Mastroianni, o falecido ator de La Dolce Vita, do magnífico Fellini, nasceu depois da eleição de João Paulo II. Encontrei-o enturmado na Praça de São Pedro. "Nestes meus 24 anos", dizia-me então, "o papa sempre esteve presente. Lembro-me quando era criança daquele homem vestido de branco, com aspecto de estrangeiro, mas, ao mesmo tempo, tão familiar. Mais tarde, durante os anos da adolescência, fiquei rebelde. O papa, no entanto, estava sempre lá, um pouco mais velho, mas sempre forte. Dizia-nos, então, que o amor de Deus era a única resposta, o único caminho para um futuro melhor. Agora, formado e iniciando minha vida profissional, aquele homem vestido de branco, longe de parecer um velhinho frágil e doente, continua lá. É uma rocha firme e segura. Acredito que para todos os jovens como eu não exista um melhor mestre do amor que um papa tão enamorado de seu serviço ao mundo."

A incrível sintonia entre os papas e a juventude oculta inúmeros recados. Num mundo dominado pela cultura do ter, pelo expurgo do sofrimento e pela fuga da dor, Bento XVI caminhou aparentemente no contrafluxo.

"Não é o evitar o sofrimento, a fuga diante da dor, que cura o homem, mas a capacidade de aceitar a tribulação e nela amadurecer, de encontrar o seu sentido através da união com Cristo, que sofreu com infinito amor. (...) A grandeza da humanidade determina-se essencialmente na relação com o sofrimento e com quem sofre. Isto vale tanto para o indivíduo como para a sociedade. Uma sociedade que não consegue aceitar os que sofrem e não é capaz de contribuir, mediante a compaixão, para fazer com que o sofrimento seja compartilhado e assumido é uma sociedade cruel e desumana", afirma Bento XVI.

Os jovens decodificam com mais facilidade os recados do papa. Eles o esperavam na Jornada Mundial da Juventude, encontro do pontífice com os jovens, em julho no Rio de Janeiro. O próximo papa, certamente, estará presente. E embora fisicamente ausente, Bento XVI o acompanhará com seu carinho e com a força da sua oração.

* Carlos Alberto Di Franco é doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra e diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais. E-mail: difranco@iics.com.br.

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terça-feira, fevereiro 05, 2013

Agricultura gerará nova indústria química, diz presidente da Embrapa

4 fev 2013 06:37 BSB
Maurício Antônio Lopes (Foto: João Fellet/BBC Brasil)
A descoberta dos biocombustíveis marcou o início de uma era em que a agricultura terá aplicações cada vez mais diversas. O avanço da pesquisa em campos como a nanotecnologia e a biotecnologia permitirá o surgimento de uma nova indústria química, com produtos derivados de plantas.
Quem faz a previsão é o presidente da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Maurício Antônio Lopes. "Há uma tendência de surgimento de uma indústria química verde, em que se possa tirar da biomassa componentes que hoje são derivados da indústria petroquímica e do petróleo."
Em entrevista à BBC Brasil a dois meses do aniversário de 40 anos da estatal, Lopes diz que a companhia tem investido em novas tecnologias para proteger a agricultura brasileira de efeitos do aquecimento global.
Ele rebate as críticas de que a empresa esteja perdendo relevância à medida que multinacionais avançam no mercado brasileiro de variedades genéticas e diz que, para manter sua capacidade de inovar, a estatal se valerá cada vez mais de parcerias com universidades e outras instituições de pesquisa.
Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista, concedida na sede da empresa, em Brasília.
BBC Brasil - Quais foram os principais feitos da Embrapa desde sua criação?
Maurício Antônio Lopes - A Embrapa contribuiu muito para que o Brasil pudesse num espaço de tempo curto alcançar não só sua segurança alimentar, mas também se projetar como grande produtor de alimentos e matérias-primas agrícolas para o mundo.
Nos anos 60 e 70, o Brasil ainda importava alimentos básicos, como arroz, leite e feijão. A mudança nessa lógica se deu nos anos 70, com a decisão do governo de fazer um investimento sólido em inovação na área agropecuária.
A geração de conhecimentos e tecnologias de correção de solo, recomposição de fertilidade e manejo de cultivos permitiram ao Brasil transformar grandes extensões de savanas, os cerrados brasileiros, muito ácidos e pobres em nutrientes, em áreas agricultáveis.
Um segundo ganho importante foi a adaptação de espécies de plantas e animais para as regiões tropicais, que permitiram ao ao Brasil se tornar um dos maiores produtores de carne no mundo.
BBC Brasil – O aquecimento global ameaça essas conquistas?
Lopes - Temos que tornar cultivos e animais mais resilientes a condições climáticas extremas. Vamos ter que desenvolver plantas mais adaptadas a condições de escassez de água e sistemas produtivos que economizem fertilizantes. As reservas de fertilizantes são finitas e muito importantes nas regiões tropicais.
Mas as mudanças climáticas e a necessidades de descarbonizar nossas economias criam oportunidades interessantes. Daqui para o futuro, antecipamos um crescimento muito grande na biomassa como fonte não só de energia renovável, mas de outros componentes para, por exemplo, a indústria química.
Há uma tendência de surgimento de uma indústria química verde, em que se possa tirar da biomassa componentes que hoje são derivados da indústria petroquímica e do petróleo. Essa será uma vertente muito importante para a agricultura brasileira do futuro.
BBC Brasil – A Embrapa está investindo nesse setor?
Lopes - Estamos fazendo um grande investimento para buscar novas fontes de biomassa, novas formas de destilar e de retirar componentes da biomassa. Podemos produzir biomassa em grande quantidade, com logística e base industrial completamente diferente, que não existe em outras partes do mundo.
BBC Brasil - Que outras possibilidades novos campos científicos trazem para a agricultura?
Lopes - Na confluência da biotecnologia, da nanotecnologia e da tecnologia da informação virá a nova geração de ferramentas para que a agricultura possa ocupar espaços novos e fazer frente aos desafios futuros, como as alterações climáticas e a disseminação de novas pragas. Temos centros de pesquisa inteiros dedicados a essas três vertentes.
Na área da biotecnologia, a Embrapa desenvolveu sozinha o feijão transgênico, resistente a uma praga muito séria no Brasil, que deve ser liberado para comercialização em 2015. Estamos desenvolvendo uma alface transgênica que produzirá altas quantidades de folato, criando a possibilidade de que gestantes, que precisam consumir alta quantidade de folato, tenham acesso à substância num alimento extremamente fácil e barato.
Temos um centro em São Paulo que trabalha a nanotecnologia, desenvolvendo conceitos de encapsulamento de nutrientes, que possam ser liberados de forma lenta, aumentando eficiência no uso de nutrientes pelas plantas e no encapsulamento de fármacos na área animal.
E temos uma unidade inteira trabalhando a tecnologia da informação, porque nossa capacidade de gerar dados cresceu muito mais que nossa capacidade de entendê-los e lhes dar utilidade.
BBC Brasil - Como manter fôlego para encarar tantos desafios, tendo em vista as dificuldades burocráticas do setor público e a velocidade das transformações tecnológicas?
Lopes - O primeiro ponto é a Embrapa não chegar à conclusão de que pode tratar tudo isso sem uma rede de parceiros poderosos. A empresa tem se esforçado para ampliar sua rede de cooperação.
Em dezembro assinei um acordo com a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas-SP) para desenvolver a primeira unidade mista de pesquisa entre a Embrapa e uma universidade no Brasil. A plataforma estará inteiramente dedicada à busca de novos genes e novas funções biológicas que vão ajudar agricultura a fazer frente à mudança do clima.
Estamos também investindo em inteligência estratégica. No ano passado lançamos a Rede Agropensa, o think tank da Embrapa, responsável por antever riscos, desafios e oportunidades.
BBC Brasil - Alguns acadêmicos dizem que, com a entrada de multinacionais na pesquisa agrícola no Brasil nos últimos anos, a Embrapa perdeu espaço e relevância no mercado nacional.
Lopes - De fato, a Embrapa teve uma presença muito mais forte no mercado de genética e das variedades de milho, soja e algodão lá atrás, nos anos 80 e 90. Ela teve que ocupar mais espaço porque havia limitações a serem removidas. Antes da soja estar completamente adaptada à realidade brasileira, grandes multinacionais não viriam para cá fazer grande investimento.
O que ocorreu nas últimas décadas não é surpresa alguma para a empresa. Não faz nenhum sentido fazer investimento de recursos públicos para competir com empresas que são eficientes e estão provendo inovações para o mercado.
Isso também não significa que Embrapa perdeu fôlego e espaço no mercado de novas variedades. A Embrapa hoje tem 80 programas de melhoramento genético. Se alguma instituição pública no mundo tiver um número tão amplo de programas de melhoramento, eu desconheço. A empresa está intensificando o trabalho de melhoramento em espécies em que o setor privado não investirá.
BBC Brasil - Nos últimos anos, discutiu-se no Congresso a abertura de capitais da Embrapa, como forma de torná-la mais capaz de concorrer com multinacionais. O projeto acabou substituído por outro, atualmente em tramitação, que prevê a criação de uma subsidiária voltada a negócios, com controle integral da estatal. Qual sua posição?
Lopes - Nós fomos os proponentes da ideia da subsidiária. Não é possível imaginar que uma empresa como a Embrapa, com um portfólio de produtos, processos e informação tão amplos, pudesse ter seu capital aberto. Isso poderia enviesar nossa produção na direção daqueles com maior poder econômico para investir na empresa, o que não é do interesse da sociedade.
Mas acho extremamente importante que empresa desenvolva mecanismos para que possa viabilizar novos negócios e novas parcerias público-privadas a partir de nosso imenso acervo de ativos.
Hoje é muito difícil para a Embrapa, a partir de um novo gene que descubra, viabilizar um produto geneticamente modificado no mercado. Custa muito dinheiro, envolve desregulamentação em muitos países. A subsidiária permitirá que se faça a transição do ativo descoberto até o produto desenvolvido com um parceiro privado, que tem muito mais agilidade e capacidade de lidar com esse mercado do que nós.
BBC Brasil - Essa subsidiária teria a função de capitalizar a empresa?
Lopes - O principal objetivo é fazer fluir para o mercado as inovações que a empresa gera. Gostaríamos de ganhar mais agilidade no diálogo e negociação com o setor privado. Obviamente que, se esses projetos têm sucesso, haverá mais recurso fluindo para dentro do processo, estimulando e alimentando programas de pesquisa. Esse é um objetivo importante também.
BBC Brasil - O governo tem expressado a intenção de agregar mais valor aos produtos exportados, para que o país dependa menos da venda de matérias-primas. A Embrapa pode participar mais desse processo?
Lopes - Um grão de soja obviamente tem valor agregado muito menor do que chips e computadores, mas não podemos disseminar que essa é uma produção de baixa tecnologia, que fazemos com os pés nas costas. O Brasil chegou a essa capacidade de produzir commodities à custa de muito investimento. Óbvio que, se o Brasil pode empacotar milho e soja na forma de carne de frango, porco e boi, e vendê-la a preços mais altos, esse certamente é um caminho a seguir.
Há um espaço enorme para desenvolvermos frutas tropicais que podem alcançar mercados muito rentáveis. E também na transformação de produtos como o algodão colorido, que tem fibras naturalmente coloridas. É algo que pode ganhar mais expressão no mercado internacional no futuro, porque pode gerar produtos mais limpos no final da cadeia de valor.

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domingo, fevereiro 03, 2013

TÉCNICA DO PLANTIO DIRETO ALIA PRODUÇÃO COM PRESERVAÇÃO DA TERRA

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MATURAÇÃO DE BANANAS NO SÍTIO


Como deu trabalho! As bananas nanicas, ao amadurecerem, ficavam escuras (fungo da podridão?), feias, moles, podres.

Depois de n tentativas, descobri uma boa maneira de amadurecer bananas. Elas ficam bonitas, firmes, amarelinhas, muito doces. E sem agrotóxicos:

1.Ensacar os cachos, o mais cedo possível. Para evitar arranhões de insetos, bicadas de passarinho, acúmulo de galhos e folhas que ficam úmidos com a chuva e ou orvalho, etc. Uso saco de plástico comum, comprado em casas de embalagens, tamanho 80 cm de largura por 1 metro de comprimento. Às vezes, costuro (em máquina de costurar doméstica) sacos com plástico usado em cobertura de estufas. O saco plástico deve ficar aberto na parte inferior para circulação de ar (para não reter vapor). Se bater muito sol, é bom colocar folha de bananeira ou jornal para evitar queimaduras provocadas pelo sol quente. Ou usar sacos plásticos PP (Polipropileno), que não queima as frutas em geral. Corte o coração e os últimos dedos pouco desenvolvidos (para engrossar os dedos de banana). Com barbante ou arame fino, amarre a boca superior do saco em torno do talo, de maneira que evite entrada de água ou insetos por cima.

2. Corte o cacho somente quando uma ou mais bananas sadias começarem a amadurecer/amarelar. (Se cortar antes de começar a amarelar, o tempo para  amadurecerem será bem maior - e maior também será o risco de ataque de fungos.) Pendure o cacho em lugar coberto, sem tirar o plástico. Corte as pencas assim que forem amadurecendo - as bananas de cima amadurecem primeiro. Uso faca de serra e/ou formão para o corte.   

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sábado, fevereiro 02, 2013

Coluna - Maílson da Nóbrega

Revista Veja - 28/01/2013

Destruir é fácil

Os governos do PT têm promovido o desmonte sistemático das instituições fiscais duramente construídas nos anos 1980. e também com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). de 2000. O processo se acentuou recentemente com o falseamento de resultados orçamentários e o uso de contabilidade criativa para fazer crer que foram cumpridas as metas de superávit primário. Caíram muito a transparência e a credibilidade das estatísticas fiscais.

A construção dessas instituições começou na crise da dívida externa da década de 80. O Brasil, como quase todos os países latino-americanos, firmou acordos com o FMI visando a assegurar um fiuxo mínimo de financiamento externo e a restaurar a confiança na sua economia. Esses acordos previam metas fiscais e a prestação de informações, tal como agora ocorre no apoio do Fundo a países europeus. Foi então que se percebeu o atraso institucional das finanças públicas brasileiras, que dificultava a geração de estatísticas e estimativas. O governo nem conhecia a si mesmo nem era controlado pela sociedade.

Entre 1983 e 1984, mais de 100 técnicos da Fazenda, do Planejamento, do Banco Central e do Banco do Brasil realizaram amplo diagnóstico da situação e propuseram medidas modernizadoras. O leitor pode não acreditar, mas quem executava o Orçamento da União era um departamento do BB e quem geria a dívida pública federal era um departamento do BC. O Tesouro não passava de uma entidade virtual. E o BC supria o BB de recursos por meio da famigerada “conta movimento”, de forma ilimitada. Nada disso transitava pelo Congresso. O BC atuava como banco de fomento e possuía equipes de análise de investimentos privados.

Todo esse quadro mudou entre 1986 e 1988. Foram extintas a “conta movimento” e as atividades de fomento do BC. Criou-se a Secretaria do Tesouro Nacional, com funções que antes cabiam ao BB e ao BC. A expansão da dívida pública passou a ser autorizada pelo Congresso. Na sequência veio a LRF, cuja qualidade foi reconhecida por organizações internacionais e que teve papel relevante na execução e na credibilidade da gestão macroeconômica.

O PT sempre se insurgiu contra essa evolução institucional. Alguns de seus líderes, hoje preeminentes, fizeram campanha contra as mudanças dos anos 1980. O partido tentou derrubar no Judiciário a LRF. Talvez por causa disso membros do governo acham hoje natural propor uma injustificável mudança na lei, permitindo, assim, a concessão indiscriminada de desonerações tributárias. Ou, na mesma linha, deduzir certos itens da despesa para fazer de conta que as metas foram cumpridas.

A ideia dessa dedução nasceu no FMI, motivada pelas dificuldades políticas para efetuar a diminuição de gastos em programas apoiados pelo Fundo. Os cortes penalizavam excessivamente os investimentos, menos sujeitos a resistências. Isso reduzia o potencial de crescimento econômico e dificultava adicionalmente os ajustes. O FMI decidiu, então, fazer uma experiência. Certos investimentos seriam escolhidos de comum acordo com o país. os quais eram monitorados pelo Banco Mundial. Se fossem realizados, poderiam ser descontados do cálculo do superávit primário.

Tratava-se, pois, de outro contexto. A escolha dos investimentos era criteriosa. Agora não. Agora, a ideia foi desmoralizada. Em vez de um "projeto piloto de investimentos”, de caráter experimental, o governo inclui itens a seu talante. Além disso, o PT recorreu a expedientes que na prática restabelecem a “conta movimento”, nesse instante com o BNDES. Manobras de setembro de 2010 permitiram contabilizar, como receita instantânea, parte da venda de 5 bilhões de barris de petróleo à Petrobras, no valor de 31,9 bilhões de reais, que não se sabe onde estão nem quando e se serão extraídos.

Salvo no caso dos subsídios concedidos via BNDES a empresas escolhidas, cujo valor permanece oculto, as demais manobras têm cobertura legal, reconheça-se. O Executivo vem conseguindo inscrever, na legislação, as deduções, apoiado por um Congresso que renuncia às suas prerrogativas, tornando-se, lamentavelmente, cúmplice dessa destruição das instituições fiscais. Mais uma vez, fica provado o óbvio: destruir é mais fácil do que construir.





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